sábado, 31 de janeiro de 2009


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I- A Racionalização das Emoções- Anais Nin
O ponto de vista feminino tem sido muito mais difícil de expressar que o masculino. Se assim me posso exprimir, o ponto de vista feminino não passa pela racionalização por que o intelecto do homem faz passar os seus sentimentos. A mulher pensa emocionalmente; a sua visão baseia-se na intuição. Por exemplo, ela
pode ter um sentimento em relação a qualquer coisa que nem sequer é capaz de
articular. A princípio, achei extremamente difícil descrever como me sentia. Porém, se fazemos psicanálise, a questão é sempre: «Como é que se sentiu em relação a
isso?» e não «O que é que pensou?» E como muito frequentemente a mulher não deu o segundo passo, que é explicar a sua intuição - por que passos lá chegou, o a-b-c daquilo - ela não consegue ser tão articulada. Ora eu tentei fazer isso (quer tenha conseguido quer não), e, porque estava a escrever um diário que pensava que ninguém leria, consegui anotar o que sentia acerca das pessoas ou o que sentia acerca do que via sem o segundo processo. O segundo processo veio através da psicanálise, que era igualmente um método de comunicar com o homem em termos de uma racionalização das nossas emoções de modo que pareçam fazer sentido ao intelecto masculino. Por isso existe uma diferença, penso eu, que é muito profunda, mas que está a começar a desaparecer. Com efeito, penso que, quando a geração mais jovem passa por qualquer experiência psicanalítica descobre que os sonhos dos homens e das mulheres são os mesmos, o inconsciente é universal, e que aí as coisas brotam do sentimento e do instinto e não passaram pelo processo de racionalização, e portanto este é um ponto de vista feminino.

II- Tornamo-nos Mais Objectivos Depois de Reconhecermos a Nossa Subjectividade
Toda a arte da psicologia ou da ciência da psicologia, se lhe quisermos chamar assim, é baseada numa inversão do processo de objectividade. Não que não possamos tornar-nos objectivos, mas que apenas possamos tornar-nos objectivos depois de termos confrontado as nossas atitudes não objectivas, as nossas atitudes não racionais. Atingir uma objectividade honesta significa termos de saber quais os pontos da nossa natureza que são propensos a determinado reconceito, que parte de nós é defensiva, que parte de nós distorce o que ouvimos. E é necessária uma tremenda auto-honestidade para começar a remover essas distorções e a clarificar a nossa visão. De modo que só podemos atingir a
objectividade depois de termos descoberto quais as áreas da nossa psique que não são objectivas.
Além disso, o reconhecimento básico da psicologia é que, lá bem no íntimo, a maior parte da nossa vida é desconhecida da mente consciente e que, quanto mais nos tornamos consciente dela, mais honestos e mais objectivos nos podemos tornar. Nós não vemos os outros com clareza, e o que obscurece a nossa visão são os preconceitos que a pessoa supostamente objectiva se recusa a reconhecer. Uma pessoa objectiva diria que não é responsável pela guerra, mas uma pessoa que sabe psicologia sabe que cada um de nós é responsável porque cada um de nós tem sempre uma área de hostilidade, que depois é projectada para hostilidades colectivas mais vastas.

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(…) Se me encontro perto de ti, o meu ser não se contrai nem se arrepia. A fadiga terrível que me consome abranda.(…)Uma fadiga dos sentimentos, do fervor dos meus sonhos, da febre das ideias, da intensidade das minhas alucinações.Uma fadiga do sofrimento dos outros e do meu.Sinto o meu próprio sangue trovejar dentro de mim e o horror de tombar dentro dos abismos.Mas se caírmos juntos, eu e tu, não hei-de ter medo.Cairemos nos abismos, mas tu levarás as tuas fosforescências até ao fundo mais ao fundo.Podemos tombar juntos e juntos subir nos espaço.Eu estava completamente exausta por causa dos meus sonhos,não pelos sonhos mas pelo medo de não ser capaz de regressar.Desnecessário regressar,agora.Hei-de encontrar-te em toda a parte aonde fôr, nas mesmas misteriosas regiões.Tu também conheces a linguagem e os pressentimentos dos nervos.Tu hás-de saber sempre o que estou a dizer, ainda que não o diga.
Anais Nin
''Não vimos as coisas como elas são, mas como nós somos”