Manifesto do diretor Rogério Sganzerla:
1 – Meu filme é um far-west sobre o III Mundo. Isto é, fusão e mixagem de vários gêneros. Fiz um filme-soma;
um far-west mas também musical, documentário, policial, comédia (ou chanchada?) e ficção científica. Do
documentário, a sinceridade (Rossellini); do policial, a violência (Fuller); da comédia, o ritmo anárquico
(Sennett, Keaton); do western, a simplificação brutal dos conflitos (Mann).
2 – O Bandido da Luz Vermelha persegue, ele, a polícia enquanto os tiras fazem reflexões metafísicas,
meditando sobre a solidão e a incomunicabilidade. Quando um personagem não pode fazer nada, ele avacalha.
3 – Orson Welles me ensinou a não separar a política do crime.
4 – Jean-Luc Godadrd me ensinou a filmar tudo pela metade do preço.
5 – Em Glauber Rocha conheci o cinema de guerrilha feito à base de planos gerais.
6 – Fuller foi quem me mostrou como desmontar o cinema tradicional através da montagem.
7 – Cineasta do excesso e do crime, José Mojica Marins me apontou a poesia furiosa dos atores do Brás,
das cortinas e ruínas cafajestes e dos seus diálogos aparentemente banais. Mojica e o cinema japonês me
ensinaram a saber ser livre e – ao mesmo tempo – acadêmico.
8 – O solitário Murnau me ensinou a amar o plano fixo acima de todos os travellings.
9 – É preciso descobrir o segredo do cinema de Luís poeta e agitador Buñuel, anjo exterminador.
10 – Nunca se esquecendo de Hitchcock, Eisenstein e Nicholas Ray.
11 – Porque o que eu queira mesmo era fazer um filme mágico e cafajeste cujos personagens fossem sublimes
e boçais, onde a estupidez – acima de tudo – revelasse as leis secretas da alma e do corpo subdesenvolvido.
Quis fazer um painel sobre a sociedade delirante, ameaçada por um criminoso solitário. Quis dar esse salto
porque entendi que tinha que filmar o possível e o impossível num país subdesenvolvido. Meus personagens
são, todos eles, inutilmente boçais – aliás como 80% do cinema brasileiro; desde a estupidez trágica do
Corisco à bobagem de Boca de Ouro, passando por Zé do Caixão e pelos párias de Barravento.
12 – Estou filmando a vida do Bandido da Luz Vermelha como poderia estar contando os milagres de
São João Batista, a juventude de Marx ou as aventuras de Chateaubriand. É um bom pretexto para refletir
sobre o Brasil da década de 60. Nesse painel, a política e o crime identificam personagens do alto e do baixo
mundo.
13 – Tive de fazer cinema fora da lei aqui em São Paulo porque quis dar um esforço total em direção ao filme
brasileiro liberador, revolucionário também nas panorâmicas, na câmara fixa e nos cortes secos. O ponto de
partida de nossos filmes deve ser a instabilidade do cinema – como também da nossa sociedade, da nossa
estética, dos nossos amores e do nosso sono. Por isso, a câmara é indecisa; o som fugidio; os personagens
medrosos. Nesse País tudo é possível e por isso o filme pode explodir a qualquer momento.
um far-west mas também musical, documentário, policial, comédia (ou chanchada?) e ficção científica. Do
documentário, a sinceridade (Rossellini); do policial, a violência (Fuller); da comédia, o ritmo anárquico
(Sennett, Keaton); do western, a simplificação brutal dos conflitos (Mann).
2 – O Bandido da Luz Vermelha persegue, ele, a polícia enquanto os tiras fazem reflexões metafísicas,
meditando sobre a solidão e a incomunicabilidade. Quando um personagem não pode fazer nada, ele avacalha.
3 – Orson Welles me ensinou a não separar a política do crime.
4 – Jean-Luc Godadrd me ensinou a filmar tudo pela metade do preço.
5 – Em Glauber Rocha conheci o cinema de guerrilha feito à base de planos gerais.
6 – Fuller foi quem me mostrou como desmontar o cinema tradicional através da montagem.
7 – Cineasta do excesso e do crime, José Mojica Marins me apontou a poesia furiosa dos atores do Brás,
das cortinas e ruínas cafajestes e dos seus diálogos aparentemente banais. Mojica e o cinema japonês me
ensinaram a saber ser livre e – ao mesmo tempo – acadêmico.
8 – O solitário Murnau me ensinou a amar o plano fixo acima de todos os travellings.
9 – É preciso descobrir o segredo do cinema de Luís poeta e agitador Buñuel, anjo exterminador.
10 – Nunca se esquecendo de Hitchcock, Eisenstein e Nicholas Ray.
11 – Porque o que eu queira mesmo era fazer um filme mágico e cafajeste cujos personagens fossem sublimes
e boçais, onde a estupidez – acima de tudo – revelasse as leis secretas da alma e do corpo subdesenvolvido.
Quis fazer um painel sobre a sociedade delirante, ameaçada por um criminoso solitário. Quis dar esse salto
porque entendi que tinha que filmar o possível e o impossível num país subdesenvolvido. Meus personagens
são, todos eles, inutilmente boçais – aliás como 80% do cinema brasileiro; desde a estupidez trágica do
Corisco à bobagem de Boca de Ouro, passando por Zé do Caixão e pelos párias de Barravento.
12 – Estou filmando a vida do Bandido da Luz Vermelha como poderia estar contando os milagres de
São João Batista, a juventude de Marx ou as aventuras de Chateaubriand. É um bom pretexto para refletir
sobre o Brasil da década de 60. Nesse painel, a política e o crime identificam personagens do alto e do baixo
mundo.
13 – Tive de fazer cinema fora da lei aqui em São Paulo porque quis dar um esforço total em direção ao filme
brasileiro liberador, revolucionário também nas panorâmicas, na câmara fixa e nos cortes secos. O ponto de
partida de nossos filmes deve ser a instabilidade do cinema – como também da nossa sociedade, da nossa
estética, dos nossos amores e do nosso sono. Por isso, a câmara é indecisa; o som fugidio; os personagens
medrosos. Nesse País tudo é possível e por isso o filme pode explodir a qualquer momento.