Hoje depois de dias
alienado nas minhas próprias coisas, voltei ao mundo e fiquei
sabendo da matéria de capa da Veja sobre as supostas declarações
de Valério sobre o mando de Lula no mensalão e me deixei refletir
sobre tudo o que envolve este esquema e seu julgamento.
*
Há dois tipos de abordagem sobre o tema que me contrariam: a ingênua e a hipócrita maledicente.
Aos maledicentes, todo meu amor. São meus adversários, contra eles combato, e lutando me divirto. Todo o meu respeito.
Aos outros, os ingênuos - muitos deles meus amigos! - dedico a paciência, mas às vezes ela me deixa e passo a desejar que lhes atingisse um raio, um atropelamento coletivo; enfim, que a providência divina me poupasse de com eles cansar meu braço e sujar minha adaga, destinada a inimigo mais respeitável.
*
Pois bem, eu tenho sido paciente com a ingenuidade recorrente com a qual a população - e muitos amigos - se referem ao "mensalão", e com o modo tolo de externar decepção com o PT : o balançar consternado de cabeças; a vitimização.
Mas agora com a elevação do Joaquim Barbosa a super-herói tipo Capitão Nascimento, moralizador do Brasil eu cheguei finalmente à irritação e a irritação é a melhor amiga do meu teclado: eu sou um tipo que só escreve quando irritado, pra acabar com a irritação. Minha escrita é utilitária. Escrevo para poder dormir e voltar a me preocupar com meu próprio umbigo e com o que vai logo atrás dele, no que faço muito bem.
Há dois tipos de abordagem sobre o tema que me contrariam: a ingênua e a hipócrita maledicente.
Aos maledicentes, todo meu amor. São meus adversários, contra eles combato, e lutando me divirto. Todo o meu respeito.
Aos outros, os ingênuos - muitos deles meus amigos! - dedico a paciência, mas às vezes ela me deixa e passo a desejar que lhes atingisse um raio, um atropelamento coletivo; enfim, que a providência divina me poupasse de com eles cansar meu braço e sujar minha adaga, destinada a inimigo mais respeitável.
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Pois bem, eu tenho sido paciente com a ingenuidade recorrente com a qual a população - e muitos amigos - se referem ao "mensalão", e com o modo tolo de externar decepção com o PT : o balançar consternado de cabeças; a vitimização.
Mas agora com a elevação do Joaquim Barbosa a super-herói tipo Capitão Nascimento, moralizador do Brasil eu cheguei finalmente à irritação e a irritação é a melhor amiga do meu teclado: eu sou um tipo que só escreve quando irritado, pra acabar com a irritação. Minha escrita é utilitária. Escrevo para poder dormir e voltar a me preocupar com meu próprio umbigo e com o que vai logo atrás dele, no que faço muito bem.
*
O que hoje poderia me
tirar o sono - mas não vai! - é esta novelinha das 5h30, esse tom
draminha juvenil que tomou conta do Brasil quando se fala a palavra
mensalão. Essa trama menininha invejosa – lembrei do Álvaro
Dias, sorry - chamando a outra de vagabunda só porque tá
“pegando” o bonitão do segundo ano do colegial.
Quem dá trela pra esse
tipo de trama é juvenil. Só não é juvenil a imprensa que conta
essa história. Não é nada juvenil; conta a história da
vagabunda, piranha, com ares de responsabilidade moral, democrática,
pelo fim da promiscuidade: a tradição, a família e a propriedade
pelo fim desta putinha.
Quando em 2005 essa
história estourou eu confesso que me decepcionei, ou até, posso
dizer, me choquei. Mas paradoxalmente também desconfiava de que tais
sentimentos tinham um fundo alienado, a-histórico, idealista,
juvenil: era a minha juvenice (sic), que estava
sob o crivo da minha crítica histórica. Hoje eu me perdoo o
romantismo de quem não percebia o imenso buraco político no qual
estávamos. Naquela época eu, como muitos, tinha uma imensa decepção
quanto às potencias de mudanças mais profundas que não se
realizaram como imaginávamos depois de 2003. Então misturei alhos
com bugalhos e por pouco não entrei no oba oba dos que pretendiam
naquela época fazer da indignação de românticos juvenis como eu a
dinamite para implodir o governo Lula.
A onda golpista não
vicejou mas o governo diminuiu ainda mais seu ímpeto, que já era fraco e o partido levou seus golpes. Muitos deixaram o PT,
indignados. Outros mantiveram a posição. Nunca fui do PT mas apoiei
os que ficaram, sem contudo desqualificar os que saíram. Sei que o
Dr. Rosinha, deputado do Paraná, foi instado por boa parte do grupo
que o apoiava, a sair. Resolveu ficar, e eu, que sempre votei nele,
aprovei. Alguns do que saíram formaram o PSOL, que tem ótimas e
péssimas jogadas. Uma ótima jogada é ter Freixo como candidato a
prefeito do Rio. Votarei nele, agora que voto no Rio. Uma péssima
jogada era a ideia esdrúxula de votar no Alkimin contra a reeleição do Lula em 2005: o plano
genial seria acabar com o Lula e reestruturar a esquerda em torno do
PSOL para a eleição de 2010. Coisa de maluco. É quando a decepção
chega ao ressentimento, e daí à estupides.
Pois é, estupides é o
que eu revejo agora nesse tom carola de tratar os pecados capitais da
política nacional.
Ora, ora, ora, o Brasil
sempre viveu um esquemão, um baita esquemão. O Getúlio, que era um
sujeito impetuoso, cheio de complexidades, contradições, mas que
tinha atitude, visão de Estado e de nação, caiu por conta do
esquemão. Rompeu o esquemão café com leite. Sentiu que o esquemão ia voltar e
impetuoso manteve à força sua posição. Ditador! Mas depois voltou
eleito, aí foi a gota d'água, São Paulo nunca o perdoou. Ditador
pode, mas estadista popular, não. Isso não! Essa ligação entre
político e massa, essa relação quando se torna assim
imprescritível como foi o caso do Getúlio e agora o Lula - embora de modo não idêntico - isso
magoa muito a turma que manda no Brasil: Banqueiros, latifundiários,
industriais, sociólogos da USP; essa gente que, de onde quer que sej,
vai se frequentar em restaurante "fino" de São Paulo.
Enfim, me desculpem as
patricinhas que chamam de vagabunda a menina proletária que está
fodendo – sorry – com o bonitão do segundo colegial na novelinha
das 5: 30h, mas o pano de fundo da trama é: era eu que trepava com
ele antes, era eu que deveria estar trepando com ele agora, e,
principalmente serei eu, custe o que custar, pouco importa quanta
hipocrisia eu tenha de vicejar, que vou “ficar” com ele amanhã.
Sendo assim, joga pedra na Geni: É preta, é pobre e é puta também!
Desmoraliza ela que o garotão abandona. Ou seja, contam com a
hipótese de que ele seja um babaca. Provavelmente é.
Aí eu ouço essa
baboseira (ou seria barboseira?) de que este é um momento histórico
que vai mudar os rumos da ética política do Brasil. Ah! Santa
simplicidade! Mudar o cacete! Tudo permanecerá igual, ou pior,
porque meia verdade é pior que uma mentira. No Brasil a conta do
jogo político sempre foi 2+2=3; porque 1 escorrega. Era assim,
antes do lula, foi assim com lula – lamento - e será assim depois
da julgamento do BBB do STF.
Agora neste exato
momento tem esquemas de captação de dinheiro acontecendo para
financiar campanhas no país inteiro. Dinheiro sem origem fiscal,
acumulados em caixa 2 e em valores muito superiores às migalhas que
sustentaram este mensalão (sim, porque se a economia do Brasil
cresceu desde 2003, os valores de arrecadação de caixa 2 subiram na
mesma proporção). Só quando nós admitirmos francamente nossas
mazelas estruturais, admitirmos que esta corrupção é estrutural;
que começa pelo modo fantasioso como se regulam as campanhas
eleitorais, que é um dos pilares no arranjo do poder político
brasileiro; só depois desde francamente, nós poderemos
pensar numa potência de mudança. Enquanto nos contentarmos
com bodes expiatórios tudo permanecerá. Mata o traficante da
Rocinha! Nada muda. Óbvio. O problema não é este ou aquele
traficante. Malhar traficantes é parte do show da polícia militar,
do Bope, ou do STF, que vai esfolar os traficantes do mensalão.
Nós estamos realmente
fadados à juvenice não temos talento para a
conversa madura, para a sabedoria do ancião. Sempre, sempre juvenis,
ingenuamente chocados quando na Veja aparece a denuncia de que 2+2=3,
ó que horror! Quando nossa saída seria admitirmos que essa é nossa
matemática histórica, antropológica, para a partir dessa
constatação de origem, de nosso vício de origem, tentarmos
efetivamente, verdadeiramente uma outra matemática que resulte
2+2=5. Porque em política 2+2=4 é uma meia verdade na qual só
acreditam os que se emocionam com o capítulo final da Malhação.
*
P.s.: sorry, mas vou
contar o final: o bonitão - pequeno burguês, filho de proletários,
metido a playboy - cai na conversa das patricinhas, termina o namoro
com a proleta - que cometeu a juvenice pequeno burguesa de teimar que
era santa ao invés descer das tamancas e se assumir uma puta - e
volta a ser um solteiro descompromissado e Liberal Democrata! Claro! Tá
comendo todo mundo, ou seja, tá comendo ninguém! Olha que
maravilha! Só na malhação. Viva o povo brasileiro.
*
Agora vou dormir em paz.
Eu
amos as putas!
Porque
as putas, as putas são de ninguém!
Eu
sou ninguém e como as putas
Espero
um dia ser a puta de alguém
(Trecho
da marchinha de Adriano Petermann e Márcio Matana)