sexta-feira, 5 de junho de 2009

Geraldo Sarno





'O cinema é a matriz da linguagem audiovisual. E a linguagem audiovisual é a linguagem do mundo contemporâneo. Ela se estendeu a todos os campos da vida social: está na ciência, no lazer, nas artes. É fundamental para o exercício político - porque é através dela que se exerce o poder político e as escolhas políticas. É essencial para a soberania das nações e em casos de guerra.

O audiovisual invadiu nossa vida. Só que sua matriz cultural é o cinema, que durante 100 anos de existência armazenou um acervo de imagens e de pensamentos sobre essas imagens e sobre o mundo. A linguagem cinematográfica exprimiu o humano a um nível semelhante ao do exercício de outras artes, assim como ao nível da filosofia.

No mundo contemporâneo, embora a linguagem audiovisual seja a mais extensiva da sociedade, ela é muito pouco conhecida e estudada. Costumo dizer que vivemos um analfabetismo audiovisual. As pessoas pensam que compreendem o que vêem, apenas porque sabem ver. Mas, para entender, é preciso ter um pouco de base cultural.

A televisão comercial, como é feita hoje, não oferece um acúmulo de conhecimentos do audiovisual. Ao contrário, ela dispersa a linguagem. Uma pessoa pode assistir a programas de televisão dez horas por dia, durante dez anos, e nem por isso ela se tornará mais culta. Mas, se ela passar o mesmo período lendo (bons) livros e assistindo ao (bom) cinema, sem dúvida terá mais condições para elaborar pensamentos sobre o mundo em que vive. Porque o cinema e a literatura têm linguagens que sensibilizam e estimulam a pensar.

E sem pensamento, não há civilização.

Pensar é um prazer que tem de ser buscado. A vida te obriga a pensar, mas o pensar cultural filosófico, esse não é dado de graça a ninguém. É preciso buscá-lo. O cinema brasileiro buscou pensar o Brasil, desde o cinema mudo. O cinema proporciona reflexões sobre, por exemplo, qual é a identidade brasileira.

Com todas as dificuldades de um país periférico, nós estamos conseguindo nos livrar das nossas limitações. E encontramos uma forma inteligente de utilizar a linguagem (ou as linguagens) do cinema.'

Escrito em 18/03/03

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